Condicionamentos Mentais dos Atletas
O artigo de hoje foca-se nos condicionamentos mentais (crenças) que os próprios atletas se autocondicionam.
Para quem acompanha o desporto de uma força regular sabe que é uma situação muito comum, muitos jogadores terem rituais em momentos chave do jogo.
Quando estão a entrar em campo, quando marcam um golo, quando impedem um golo,… Entrar com o pé direito, com o pé esquerdo, benzer-se antes de um jogo começar, ser o primeiro a entrar em campo, ser o último a entrar em campo, comemorar com o punho cerrado quando impedem um golo…
Regulação emocional
Estes gestos são encarados como naturais por todos os que acompanham jogos de futebol.
A questão que podemos colocar é se se trata de um ato de fé, hábitos ou superstições.
Analisando a questão em termos mentais, este tipo de “procedimentos” ajuda a regular os estados emocionais, regulando a ansiedade e confiança.
Pensamentos determinam comportamentos
Estes tipos de gestos estão diretamente ligados à componente mental do atleta. Os gestos estão ligados aos pensamentos. Ao executar determinado “ritual” o atleta fica mais confiante e produz pensamentos de confiança que se expandam por todo o corpo.
Quando pensa em algo, inicia-se no seu cérebro uma reação bioquímica que faz com o cérebro liberte certos sinais químicos. É desta forma que pensamentos imateriais se materializam.
O que acontece é que estes “mensageiros químicos” fazem com que o seu corpo se sinta exatamente da mesma forma que estava a pensar.
Assim que se sentir de determinada forma, vai provavelmente gerar mais pensamentos semelhantes ao que está a sentir, e irá libertar mais químicos no seu cérebro que o vão fazer sentir da forma como está a pensar.
O lado negro
O tema dos rituais apresenta um lado perverso. Quando um atleta se esquece de se fazer o seu ritual e começa a pensar que o jogo já não vai correr tão bem, não está completamente concentrado. E muito provavelmente o jogo não lhe vai correr bem porque os seus pensamentos assim o vão condicionar e determinar.
E quando os rituais são externos?
Apresento-lhe um caso de um atleta que trabalhou comigo o ano passado. O atleta em questão é guarda-redes e, numa das nossas sessões de coaching desportivo, referiu-me que quando faltavam 5 minutos para o jogo terminar, nos jogos em que o resultado estava zero a zero nesse momento, começava a ficar nervoso e a ter muitos pensamentos negativos.
Como referi os pensamentos condicionam os nossos comportamentos.
Perguntei-lhe o que ele pensava. Ele referiu que a partir daquele momento só queria que a bola ficasse longe da sua área, e que os defesas impedissem que a mesma fosse rematada para a sua baliza.
Nesse momento, perguntei-lhe de forma quase imediata: – “Não deveria ser assim todo o jogo? Se os seus colegas impedissem que a bola chegue à sua baliza é certo que não sofria golos, certo?”.
O pensamento do meu atleta não era bem esse. O que ele pensava é que caso a bola fosse dirigida para a baliza ele seria incapaz de a defender.
Esse tipo de pensamento, condiciona de sobremaneira o comportamento desportivo do atleta.
A questão seguinte que lhe coloquei foi como é que ele sabia que faltavam cinco minutos para acabar o jogo. Descobri que era a própria equipa técnica que tinha esse ritual. Gritavam a todos os pulmões que faltavam cinco minutos para terminar o jogo.
O meu atleta ao ouvir “essa âncora” despoletava uma espiral de pensamentos negativos que o bloqueavam na plenitude da sua performance desportiva.
O trabalho que realizei foi avisar a equipa técnica do efeito que este tipo de comunicação estava a fazer naquele atleta específico e provavelmente poderiam existir outros atletas que poderiam ser afetados com aquele tipo de comunicação.
Com o atleta o trabalho específico que foi realizado foi o de o condicionar a outro tipo de pensamentos: “Se já só faltam 5 minutos, ótimo, já não entra mais nenhuma bola na baliza porque eu estou muito bem no jogo”.
Conclusões
Este tipo de rituais que condicionam pensamentos podem ser muito poderosos quando utilizados com uma intenção bem definida.
Podemos criar rituais para as nossas equipas de modo a que aumentem os níveis de confiança e baixem os níveis de stress e ansiedade.
Quando utilizados de forma pensada e metódica este tipo de rituais podem ser um dos fatores que permitam uma melhor performance desportiva.
Se eu acredito que vou ter uma melhor performance desportiva estou mais perto de ter uma melhor performance desportiva.